Não!Esta é a palavra de
ordem nos dias atuais. Não, as pessoas não querem assumir responsabilidades.
Não, as mulheres não querem mais ter filhos. Não, os jovens não querem nem
ouvir falar em namoro. Não, ninguém quer abrir mão da boa vida. Não, ninguém
aceita ouvir não!
Fico me perguntando em que
momento surgiu uma sociedade tão individualizadora e egoísta. Ainda há umas
duas décadas, era uma geração que usava fraldas, louca de vontade de colocar as
manguinhas de fora, rindo das pobres vítimas de seu plano de extermínio socioafetivo.
E a hora chegou!As asinhas cresceram, e como uma borboleta que sai do casulo,
as crianças alçaram voo, ansiosas por desbravar o vasto mundo que as esperava,
dispostas a mudar cada detalhezinho, até que ele ficasse exatamente do seu
jeito. E conseguiram. Agora, cada vez mais cedo, rompem seus casulos, e algumas
adquirem deficiências emocionais por precipitarem o tempo do ciclo.
Raro é não ver meninas de
dez anos vestidas como mulheres de vinte e cinco. Notório é não receber um
pedido de autorização do seu primo de sete em uma rede social. Louvável é
encontrar um “rapazinho” de nove que ainda não passa o dia grudado no celular.
Isso sem falar nos amores platônicos (ou não, o que é ainda pior!) das
“mocinhas” de oito. Não existem mais crianças. Hoje, nascem pequenos adultos,
já condenados ao sofrimento de ter que lidar com a frustração de um dia se
descobrirem imperfeitos e limitados. O mundo evoluiu em um ritmo tão acelerado,
que passou para o piloto automático. Não damos mais conta de tantas mudanças simultâneas.
Sim, as mulheres estão
certas em adiar a maternidade em busca do crescimento profissional e os
profissionais em não aceitar, de cabeça baixa, as imposições injustas de seus
chefes. Os jovens não erraram ao começarem a agir mais com a razão que com seus,
antes, tão insensatos corações. Perceberam que , ao contrário do que se
pensava, é possível aproveitar a juventude sem se ver obrigado a acabar com as
cobranças sociais e apresentar um namorado ou uma namorada pra família. Ninguém
depende mais de ninguém pra ser feliz. Estamos na era dos jovens empresários brilhantes
e dos escritórios virtuais. O ser humano descobriu que pode ir além, mas se
empolgou demais com tantas possibilidades e esqueceu de trocar o acelerador
pelo freio, de vez em quando. O resultado desse exagero indiscriminado são pais
que não conseguem mais controlar seus filhos e filhos que já se consideram
suficientemente adultos para as festas, mas ainda muito jovens pra arranjar um
emprego. É a desvalorização das famílias e das pessoas, e valorização demasiada
do indivíduo e do consumo. É a internet usada irresponsavelmente e o acesso
irrestrito a tudo, o tempo todo. Essa é a cara dos anos dois mil.
Finalmente, aprendemos a
aprender com o erro dos outros, e não precisamos mais dar de cara na lama pra entender
o mundo. Porém, o medo constante de ser passado para trás e a necessidade de
estar sempre à frente, transformaram uma sociedade cheia de recursos em uma especialista
em distanciar seres humanos. Tanta autoproteção tem gerado verdadeiros mendigos
de afeto, aparentemente saudáveis, mas com o coração sangrando e aos prantos; excelentes
na arte da digitação, mas totalmente incapazes de arriscar uma conversa casual.
Vai chegar o dia em que as pessoas
não se olharão mais nos olhos e os abraços ficarão no passado. Será
expressamente proibido se aproximar de alguém, para evitar ser contagiado por características
tipicamente humanas. Todos nós desaprenderemos a ser gente. Viveremos
enfurnados em casa, trabalharemos online, compraremos online, comeremos online,
dormiremos online. Seremos uma comunidade altamente evoluída, e não haverá nada
que nos seja impossível nem ninguém que nos abale, não é mesmo?!Não!Não é
mesmo. Espera aí...O que é isso? Já tem gente se identificando e protestando
contra este texto. Via facebook, obviamente.