domingo, 5 de agosto de 2012

A outra face do poder



Começou esta semana, em Brasília, o julgamento do chamado “Mensalão.” Sete anos após a descoberta do esquema de corrupção, o Supremo Tribunal Federal vai julgar, de uma só vez, 38 réus acusados de terem cometido diversos crimes, como corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Em entrevista a um jornal da televisão aberta brasileira, um cientista político, opinou sobre o assunto, dizendo que ainda que todos os réus sejam absolvidos, a sociedade brasileira não verá a impunidade prevalecer mais uma vez, levando-se em conta que irá ocorrer o julgamento do caso.


O Brasil é um Estado Democrático de Direito e, como tal, vigora o que é decidido pela maioria, sob a égide de um ordenamento jurídico. Pelo princípio da presunção de não culpabilidade, ninguém é considerado culpado até que se prove o contrário e, sob o amparo do Código de Processo Penal Brasileiro, o réu deverá ser absolvido nos casos em que não existam provas de autoria do fato delituoso. Reportando-nos à fala do cientista político e pautando-se na legislação brasileira, provando-se inocentes os réus ou não se obtendo prova de culpa, é de se concordar que a justiça tenha sido feita. Creio que o cientista político quis dizer que levar um caso de escândalo público a julgamento já é uma vitória para o povo brasileiro, que tantas vezes viu a injustiça levar a melhor.


O questionamento que faço é o seguinte: tendo o caso vindo à tona e revoltado toda a população, ao ver que sua democracia não era assim tão democrática, como agora será possível convencê-la de que nada existiu?É fato que as leis deixam brechas e que, por meio de manobras bem pensadas, acaba sendo possível conseguir uma absolvição. Mas, em um caso de tão grande repercussão e com tantas evidências levadas a público, livrá-los de uma condenação corresponderia a colocar a inteligência da nação em um patamar ínfimo, e ainda confirmar que a seriedade do país só existe no papel, em que também figuram a justiça, a igualdade e a democracia.


O que falta para a “pátria amada” é o cumprimento, por todos, de suas leis, inclusive pelos governantes, que nada mais deveriam ser que representantes da real vontade popular. Se o próprio governo ensina corrupção, não há como esperar que predomine o que é honesto pelas ruas do país. Se as pessoas veem que os ideais de equidade pregados nunca são efetivamente cumpridos e tornaram-se apenas uma forma de calar sua voz, acabam por desacreditar no compromisso do Estado. O povo precisa entender que, como bem dizem, mais importante que a velocidade, é a direção. Nenhuma mudança acontece de uma hora para a outra, mas tudo começa com o primeiro passo. O povo brasileiro está precisando mostrar a sua cara, pois quem não assume a identidade que lhe pertence, deixando de buscar o que lhe é de direito, e esquece a importância de escolher seus políticos com responsabilidade, sempre vai acabar fazendo papel de palhaço.

   

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