Começou esta semana, em
Brasília, o julgamento do chamado “Mensalão.” Sete anos após a descoberta do
esquema de corrupção, o Supremo Tribunal Federal vai julgar, de uma só vez, 38
réus acusados de terem cometido diversos crimes, como corrupção ativa, lavagem
de dinheiro e formação de quadrilha.
Em entrevista a um jornal da
televisão aberta brasileira, um cientista político, opinou sobre o assunto,
dizendo que ainda que todos os réus sejam absolvidos, a sociedade brasileira
não verá a impunidade prevalecer mais uma vez, levando-se em conta que irá
ocorrer o julgamento do caso.
O Brasil é um Estado
Democrático de Direito e, como tal, vigora o que é decidido pela maioria, sob a
égide de um ordenamento jurídico. Pelo princípio da presunção de não
culpabilidade, ninguém é considerado culpado até que se prove o contrário e,
sob o amparo do Código de Processo Penal Brasileiro, o réu deverá ser absolvido
nos casos em que não existam provas de autoria do fato delituoso. Reportando-nos
à fala do cientista político e pautando-se na legislação brasileira, provando-se
inocentes os réus ou não se obtendo prova de culpa, é de se concordar que a
justiça tenha sido feita. Creio que o cientista político quis dizer que levar
um caso de escândalo público a julgamento já é uma vitória para o povo
brasileiro, que tantas vezes viu a injustiça levar a melhor.
O questionamento que faço é o
seguinte: tendo o caso vindo à tona e revoltado toda a população, ao ver que
sua democracia não era assim tão democrática, como agora será possível
convencê-la de que nada existiu?É fato que as leis deixam brechas e que, por
meio de manobras bem pensadas, acaba sendo possível conseguir uma absolvição. Mas,
em um caso de tão grande repercussão e com tantas evidências levadas a público,
livrá-los de uma condenação corresponderia a colocar a inteligência da nação em
um patamar ínfimo, e ainda confirmar que a seriedade do país só existe no
papel, em que também figuram a justiça, a igualdade e a democracia.
O que falta para a “pátria amada”
é o cumprimento, por todos, de suas leis, inclusive pelos governantes, que nada
mais deveriam ser que representantes da real vontade popular. Se o próprio
governo ensina corrupção, não há como esperar que predomine o que é honesto
pelas ruas do país. Se as pessoas veem que os ideais de equidade pregados nunca
são efetivamente cumpridos e tornaram-se apenas uma forma de calar sua voz,
acabam por desacreditar no compromisso do Estado. O povo precisa entender que,
como bem dizem, mais importante que a velocidade, é a direção. Nenhuma mudança
acontece de uma hora para a outra, mas tudo começa com o primeiro passo. O povo
brasileiro está precisando mostrar a sua cara, pois quem não assume a
identidade que lhe pertence, deixando de buscar o que lhe é de direito, e esquece
a importância de escolher seus políticos com responsabilidade, sempre vai
acabar fazendo papel de palhaço.
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