domingo, 29 de julho de 2012

A matéria nunca muda



Fico impressionada com o absurdo a que pode chegar a ignorância de um ser humano. As pessoas acham mesmo que têm o direito de menosprezar as outras. Um dia desses observei uma cena um tanto quanto inacreditável (pra não dizer repugnante): uma senhora foi estacionar seu carro em uma vaga de tamanho mais que suficiente, e um pouco à frente havia, já há algum tempo, um senhor parado à beira do meio fio, com uma bicicleta que continha uma espécie de carroceria acoplada. Ele selecionava, calmamente, na lixeira de uma farmácia, algumas caixas de papelão e as colocava na carroceria. Quando a mulher chegou, começou a acenar, sem um pingo de delicadeza e educação, para que o senhor saísse de sua frente e ela estacionasse o carro.Faço questão de ressaltar que a vaga era do tamanho do mundo e a motorista era tão péssima que precisou de um pouco mais de espaço, por ter feito uma manobra ainda pior.

Não estou aqui para questionar a qualidade dos motoristas. Entendo que ninguém nasce sabendo, e que dirigir bem requer prática. Entendo também que tem gente que pode praticar a vida toda e ainda assim vai continuar sendo barbeira. Mas, o que não entendo e nunca vou entender é gente que, mesmo que tenha 100 anos nas costas, não sabe o valor do outro e a importância do respeito ao próximo.

Naquele momento, o senhor afastou- se, humildemente, e a mulher desceu do carro, toda cheia de pompa, sem nem sequer olhar para ele, que voltou, tranquilo e sereno, para onde estava.

O sentimento que cresce dentro de mim diante de uma situação como essa é de indignação. A mais pura e dilacerante indignação. Sinto aversão ao ver que tem gente por aí com nariz arrebitado, achando que é melhor que os outros. Essas pessoas servem pra provar que ter educação e respeito não tem nada a ver com ter dinheiro no bolso.

Tem gente excluindo gente; tem dinheiro demais com pouca gente e comida de menos no prato de muita gente. As pessoas estão mesmo achando que o seu pé de meia vai garantir uma cobertura lá no céu. É uma pena ver que ainda existe gente que não experimenta a maravilha de ser agradável ao outro. Porque sim, quando tratamos bem as pessoas, cresce dentro de nós um sentimento bom, uma paz interior que vem da realização de oferecer ao semelhante a acolhida que ele merece, e mostrar que ninguém é melhor que ninguém por causa da sua classe social.

É triste ter que dizer que, por aqui, união ainda é só uma marca de açúcar, e não uma palavra posta em prática para acabar com a segregação imposta em virtude de diferenças mínimas, enquanto todos se esquecem que, passe o tempo que passar, mude o que mudar, enriquecendo ou empobrecendo, todo mundo sempre vai ser de carne e osso.

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